setembro 17, 2021
O Banco de Portugal (BoP) divulgou, os indicadores coincidentes de agosto, relativos à Atividade Económica e Consumo Privado. Os indicadores coincidentes procuram caracterizar a situação atual da atividade económica numa área particular, neste caso o Consumo Privado e a Atividade Económica em geral, ou seja, retratam o momento atual (importante realçar que os dados históricos recentes são frequentemente revistos).
Os dados foram os seguintes:
1 – Indicador Coincidente de Atividade Económica: +2,7% homólogo, vs. +2.6% e +2,1% em julho e julho, respetivamente. Compara com média móvel de 12 meses (12MMM) -1,70% e 3MMM +2,50%;
2 – Indicador Coincidente de Consumo Privado: +7.1% homólogo, vs. 6.80% e 6.0% em julho e junho, respetivamente; compara com 12MMM: +0,50% e 3MMM: +6,60%.
Os indicadores coincidentes em agosto, atingiram novos máximos, no caso do Indicador Coincidente de Consumo Privado, registou um crescimento histórico, +7,1% homólogo, enquanto o indicador de Atividade Económica, trata-se de um máximo mais recente, igualando valores registados na primeira metade de 2018. Tal como já escrevemos em comentários anteriores, este tipo de crescimento muito suportado na procura doméstica, é positivo em termos fiscais, nomeadamente receita fiscal, uma vez que as importações pagam IVA, mas tem tendência a colocar sob pressão as contas externas, via aumento das importações, subida de salários, inflação nos serviços e perda de competitividade externa. O aumento marginal está se a reduzir e como tal a procura interna deverá registar valores menos intensos nos próximos trimestres. No entanto, os fundos da União Europeia, nomeadamente o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) se muito concentrados no tempo, concretamente nos próximos 2 anos, até às legislativas (setembro/outubro 2023) e se não forem compensados com políticas fiscais e/ou monetárias de sinal contrário, deverão sustentar esta dinâmica na procura interna e pressionar em alta os preços dos serviços.
Resumindo, os indicadores de agosto, confirmam um momento forte na economia portuguesa, nomeadamente em termos de consumo, ainda que a variação marginal tenha sido inferior. Este tipo de desempenho, sendo benéfico do ponto de vista fiscal, tende a deteriorar as contas externas e gerar um modelo de crescimento insustentável. O PRR se não for compensado com algumas medidas de arrefecimento, fiscais ou monetárias por parte do BCE, deverá alimentar ainda mais a procura interna, pressionando preços do serviços, salários e perda de competitividade.
Fonte: BoP, AS Independent Research
António Seladas, CFA
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