abril 15, 2019

Poupamos cada vez menos. Aliás, nunca poupámos tão pouco. Quem o diz é o Eurostat: as famílias em Portugal atingiram um novo mínimo histórico de poupança, 4,6% do rendimento, que é quase um terço da média da Zona Euro. Colocado de forma simples, depois de feitas as despesas, as famílias portuguesas poupam 4,6% do rendimento.
Apesar de estarmos melhor que em 2017, estamos ainda abaixo do que poupávamos antes da crise. Se tivermos em conta que estamos num período de crescimento, os números devem ser motivo de grande preocupação e um alerta. Para o país, mas principalmente para cada um de nós.
Se ligarmos a taxa de poupança ao desafio da reforma, então o problema ganha uma dimensão ainda maior, tendo em conta que a pensão que receberemos do Estado, sem outro complemento que tenhamos feito ao longo da vida, significará um empobrecimento e uma perda de qualidade de vida.
Mas quando o objetivo é poupar, seja para a reforma – e iniciar esse caminho quando começa a vida ativa não é cedo demais – ou para outro fim, reservar uma parte do rendimento não chega. É preciso juntar uma segunda componente: a do investimento.
A devolução do IRS é como que uma poupança forçada pelo Estado, que nos retém imposto a mais, devolvendo-o mais tarde. Em vez de encararmos este acréscimo de capital como uma "folga" ou “balão de oxigénio", aplicá-lo bem é uma forma de compensar a baixa e insuficiente taxa de poupança ao longo do ano. Aplicar bem este capital é escolher, no mercado, a opção que melhor multiplica os nossos euros e fugir das opções que, na verdade, consomem o nosso capital.
Vejamos os vários produtos de poupança, os bons… e os maus.
A "segurança" dos depósitos a prazo
Não há quem não se deixe tentar pela "segurança" dos depósitos a prazo. Segurança entre aspas porque, na realidade, recorrer a depósitos a prazo com a expetativa de acumular capital é, simplesmente, um erro.
Os últimos dados do Banco Central Europeu (BCE), revelam que, em janeiro, os depósitos à ordem e a prazo dos portugueses bateram um máximo de sempre, nos 148 mil milhões de euros, dos quais 92,4 mil milhões estavam em depósitos a prazo.
Os depósitos devem existir, sim, mas servem outro propósito: ter uma almofada financeira pronta a utilizar em caso de emergência ou despesa inesperada. Têm a vantagem de ser altamente líquidos – podemos movimentar a qualquer momento sem penalizações (regra geral, mas atenção às exceções) – e não corrermos risco de mercado.
Mas corremos outro: o da inflação, por exemplo. E de um retorno em juros insignificante. A remuneração destes depósitos está indexada à taxa Euribor, que tem vindo a cair em todos os prazos, a acompanhar uma perspetiva de estabilização e não de aumento da taxa de juro diretora por parte do BCE, pelo menos até 2020.
Se a sua simplicidade é uma das vantagens, a taxa de remuneração oferecida torna-o pouco atrativo. Contas feitas, a maioria dos depósitos está a pagar, em média, uma taxa anual líquida próxima do zero. Portugal é, aliás, o terceiro país da Zona Euro que pior remunera os depósitos a prazo, ao apresentar juros de 0,13%, segundo o BCE.
Estará a pensar que tem visto ofertas de depósitos bastante mais generosas. Pois é, mas ao valor anunciado há que descontar comissões, anualizar a taxa e perguntar ao banco a partir de que montante é que os depósitos são remunerados com as taxas mais generosas. O mais certo é descobrir que os juros mais generosos só se aplicam a grandes montantes.
Alternativa aos depósitos a prazo: os fundos de tesouraria
São fundos que apostam sobretudo em títulos de grande liquidez (depósitos a prazo, papel comercial), têm a vantagem da valorização depender da cotação da unidade de participação (UP) no fundo e o facto de apresentarem baixo risco e terem uma remuneração do capital ligeiramente superior aos depósitos a prazo.
Na maioria dos fundos, pode-se resgatar o capital em qualquer momento sem perder os juros, pois a valorização é calculada diariamente. Estes fundos, explica a DECO, servem para minimizar o efeito da inflação, evitando que o dinheiro aplicado perca poder de compra.
Se o prazo de investimento for inferior a um ano e houver a possibilidade de precisarmos do capital de um dia para o outro (ou quase), são a opção a considerar.
Os produtos do Estado
Porque os depósitos nada rendem, a segunda opção dos portugueses à procura de algum rendimento sem correr riscos são os produtos de investimento do Estado, onde se incluem os certificados de aforro, os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento (CTCP) e as Obrigações do Tesouro. Vejamos um por um.
Nos certificados de aforro (como nos depósitos), a taxa de remuneração de uma determinada série é calculada com base na média dos valores da Euribor a três meses nos dez dias úteis anteriores, acrescida de 1% (no fundo é o prémio oferecido pelo Estado para convencer-nos a investir neste produto).
Ora, como a Euribor está atualmente em valores negativos, a taxa de juro para novas subscrições de certificados de aforro (série E) foi fixada em 0,691% e trata-se de uma taxa bruta.
Por isso o apetite por certificados de aforro tem estado em queda livre e os aforradores têm transferido o seu interesse para os CTCP. Mas vale mesmo a pena?
Neste caso, a taxa de juro cresce ao longo dos anos em que temos o dinheiro aplicado: no primeiro e segundo ano são pagos 0,75% (remuneração bruta) e sobe para 1,05% no terceiro ano, 1,35% no quarto, 1,65% no quinto e 1,95% no sexto, até atingir no último ano 2,25%. A taxa de juro a partir do segundo ano é acrescida de um prémio correspondente a 40% do crescimento médio real do PIB, a preços de mercado nos últimos quatro trimestres conhecidos no mês anterior à data de pagamento de juros.
Os CTPC pagam uma taxa efetiva ilíquida de 1,38% ao ano para quem os mantenha por sete anos.
Tendo em conta que a inflação estabilizou em 0,9% em março, os certificados de aforro produzem mesmo perda de capital e, no caso dos CTCP, só a partir do quarto ano poderemos estar a ganhar alguma coisa e estamos a falar de um valor abaixo de meio por cento. Ou colocado de outra forma: 100 euros investidos hoje, renderam cinco euros ao final de quatro anos. Sim, é mesmo verdade.
Finalmente, as Obrigações do Tesouro. Há que dizê-lo, em plena crise, foram um bom negócio. Estamos a falar de dívida pública portuguesa.
Risco reduzido (apenas se o país entrasse em default).
A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) regressou em 2018 às emissões de obrigações direcionadas para as famílias. Colocou mais de 500 milhões de euros em Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) com maturidade de sete anos, com a promessa de um juro ilíquido de 1%, a que pode acrescer o valor da Euribor a seis meses caso este indexante suba para valores positivos, coisa que não está a acontecer.
Relembrando a inflação a situar-se perto de 1%, não será com esta opção que vamos fazer crescer a nossa poupança.
Os Planos Poupança Reforma
Se olharmos para o perfil demográfico em Portugal, a grande maioria dos subscritores tem entre 40 e 55 anos, altura em que começam as preocupações mais sérias com a reforma. Tarde demais. Deviam começar bem antes.
Há os PPR públicos - com pouquíssima adesão e que têm vindo a perder subscritores todos os anos - e os privados.
A escolha do PPR certo tem regras várias mas a essencial é que seja adaptado ao momento da vida em que estamos e tenha em conta quantos anos faltam para a reforma. Quanto mais perto estivermos do fim da vida ativa, menos risco – investimento em ações – deve comportar.
Um PPR não é mais do que um fundo de investimento com um tratamento fiscal mais vantajoso. É composto por um conjunto de classes de ativos que inclui ações (risco), obrigações e ativos mais líquidos (fundos de tesouraria, por exemplo) e a proporção de cada uma destas classes de ativos faz o PPR variar de mais conservador até mais agressivo.
A escolha do PPR certo depende da idade mas também do nosso perfil de investidor, se é mais ou menos tolerante ao risco. Se é certo que os ganhos passados não são garantia de ganhos futuros, a escolha do PPR mais vantajoso deve passar por uma consulta do mercado, designadamente o histórico de retornos dos PPR disponíveis.
Qual a melhor solução para aplicar a poupança?
A primeira regra é consistência e regularidade: o investimento periódico e regular permite expurgar os efeitos da emoção no investimento.
A segunda é pensar a longo prazo. O investimento é uma maratona, não uma corrida de velocidade: basta olhar para o histórico dos índices para perceber que, no longo prazo, valorizaram.
A terceira é diversificar, sempre, para reduzir risco e volatilidade.
Finalmente, em ciclos económicos mais desafiantes como o atual, escolher a gestão ativa - um intermediário financeiro - (por oposição a tomarmos o assunto em mãos ou simplesmente investir em fundos de índices) é da mais elementar prudência.
Alexandra Ferreira
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