Macroeconomia

fevereiro 12, 2020

Balanços dos bancos cada vez mais sustentáveis

O Banco de Portugal divulgou ontem os dados de dezembro relativos ao setor bancário, nomeadamente volumes nos Empréstimos e Depósitos, Taxas de juro nos novos Depósitos e novos Empréstimos (Empresas, Hipotecas e Crédito ao Consumo) e os rácios de Empréstimos Vencidos.

Realçamos o seguinte:

Empréstimos totais (Loans): +0,6% homólogo vs. 12MMM (12 meses media móvel) de -0,6% e 3MMM (3 meses média móvel) de 0,4%:
- Sociedade Não Financeiras (SNF): -3,5% Homólogo vs. 12MMM -4,15% e 3MMM -3,20%;
- Hipotecas: +0,3% Homólogo vs. 12MMM 0% e 3MMM 0%;
- Consumo e Outros Fins: +14,5% vs. 12MMM +8,7% e 3MMM 13,7% (estes dados registaram uma forte variação de maio para junho de 2019; tendo, portanto, que ser interpretados com cautela, ainda que a tendência esteja correta).   

Taxas de juro no novos Empréstimos:
- SNF: 2,13% vs. 12MMM 2,28% e 3MMM 2,23%;
- Hipotecas: +1,10% vs. 12MMM +1,22% e 3MMM 1,06%;
- Consumo e Outros Fins: +6.58% vs. 12MMM 6,99% e 3MMM 6,70%.

Taxas de Juro nos novos Depósitos (até 1 ano):
- Empresas: 0,06% vs. 12MMM 0,10% e 3MMM 0.07%;
- Indivíduos: +0,07% vs. 12MMM de 0,11% e 3MMM 0,08%.

  • Rácio de Crédito Vencido (Overdue Loans ratio):
  • - SNF: 4,6% vs. 12MMM 6,85% e 3MMM 5,33%;
  • - Hipotecas: 0,8% vs. 12MMM de 1,26% e 3MMM 0,97%;
    - Consumo e Outros Fins: 6,7% vs. 12MMM de 7,7% e 3MMM 7,07%. 
  • Margem líquida de intermediação (NIM, proxy):
    - NIM: 2,16% vs. 12MMM de 2,25% e 3MMM 2,18%.

 

O setor continua a “limpar” o balanço; de facto os dados de dezembro em termos de rácio de crédito vencido nomeadamente nos empréstimos ao Setor Não Financeiro (SNF; empresas) não se verificavam desde 2010, antes da crise da dívida soberana, portanto o nível de provisões deve crescer no 4T19 (4º trimestre 2019). No entanto, o balanço do setor encontra-se neste momento extraordinariamente “saudável/limpo”, enquanto o rácio de Empréstimos Brutos sobre total de Depósitos, se encontra nos 0,98x quando há cerca de 10 anos se aproximava dos 1,8x.

Relativamente à rendibilidade do setor, nomeadamente a Margem de Intermediação Financeira (MIF, taxa média dos empréstimos menos taxa média dos depósitos), o ambiente é mais preocupante, essencialmente devido às taxas nos empréstimos relativamente baixas. Na verdade, a MIF está sob pressão, a nossa proxy para a NIM está perto de mínimos, pelo menos nos últimos dez anos, ainda que se tenha notado um abrandamento na queda, o nível corrente 2,16% está perto dos nível médios dos últimos 12 meses 2,25%. O setor claramente, necessita de consolidar e desse ponto de vista faz todo o sentido que o Novo Banco seja adquirido por um concorrente e integrado no sistema.

Em resumo, o balanço do setor está extraordinariamente limpo e sustentável tendo em conta o rácio de conversão de Depósitos em Crédito, no entanto a Margem Financeira encontra-se sob pressão devido ao baixo nível absoluto das taxas de empréstimos. Ainda assim, aparentemente a nossa proxy para a Margem Financeira está a estabilizar em níveis reduzidos, enquanto o volume de empréstimos brutos começam a crescer em termos homólogos, ou seja volumes a crescer e preços (Mg Financeira) a estabilizar, este tipo de dinâmicas é geralmente positivo para o setor. 

      

       

Fonte: Banco de Portugal e AS Independent Research


Artigo de autoria:
António Seladas, CFA

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