março 03, 2023
tempo de leitura: 3 minutos
O sector bancário beneficia de um ambiente invulgar
O ambiente mantém-se muito favorável no sector bancário, com a proxy Margem de Intermediação Financeira em janeiro a atingir valores históricos. A remuneração dos Depósitos subiu em janeiro e deverá continuar nos próximos meses, uma vez que os Depósitos estão a competir diretamente com os Certificados de Aforro, ainda assim as taxas nos créditos deverão também subir, protegendo a margem. Menores volumes de crédito deverão começar a impactar a economia, a procura por imobiliário e supostamente estabilizar o nível geral de preços; ainda assim, os diferimentos temporais monetários são incertos. Finalmente, os rácios de incumprimento mantêm-se em valores historicamente baixos, sendo natural uma subida nos próximos meses com o abrandar da economia.
O Banco de Portugal (BdP) divulgou, o segundo conjunto de dados, sobre o sector bancário, referentes a janeiro. Os dados divulgados referem-se às taxas de juro nos novos Empréstimos às Empresas, Hipotecas e Consumo e as taxas de juro que remuneram os novos Depósitos.
Realçamos o seguinte:
Taxas de juro médias nos novos Empréstimos:
- Não Financeiras: 4,70% vs. 12Meses Média Móvel: 2,9% e 3MMM: 4,4%;
- Hipotecas: +3,32% vs. 12MMM: +2,0% e 3MMM: 3,2%;
- Consumo e Outros Fins: +7,59% vs. 12MMM: 6,6% e 3MMM: 7,1%.
Taxas de Juro médias nos novos Depósitos (até 1 ano):
- Empresas: 1,05% vs. 12MMM: 0,33% e 3MMM 0,93%;
- Indivíduos: +0,43% vs. 12MMM: 0,14% e 3MMM: 0,34%.
Margem Líquida de Intermediação (NIM, proxy):
- 3,83% vs. 12MMM: 2,81% e 3MMM: 3,69%.
Separadamente, o BoP publicou, na passada segunda-feira, os volumes nos Depósitos e Empréstimos e volumes de crédito em incumprimento. Salientamos o seguinte:
- Empréstimos totais: +1,1% homólogo vs. 12MMM 2,6% e 3MMM 1,7% (Empresas: -1,5% homólogo; Hipotecas: +3,0% homólogo e “Consumo e Outros fins”: +1,4% homólogo);
- Depósitos Totais: +5,4% homólogo vs. 12MMM 7,9% e 3MMM 6,3%;
- Créditos em Incumprimento: Empresas 2,14% vs. 12MMM 2,25%; Hipotecas: 0,29% vs. 12MMM 0,38% e “Consumo e Outros Fins” 3,37% vs. 12MMM 3,86%
Comentário: Os dados de janeiro mostram um aumento na remuneração dos Depósitos, Empresas e Particulares e devemos esperar novas atualizações nos próximos meses, uma vez que os Depósitos no Retalho estão a competir diretamente com os certificados de Aforro (em janeiro o volume em certificados cresceu €2,3 Mil milhões sequencialmente, enquanto os depósitos no retalho caíram €2,5Mil milhões. Ainda assim o rácio de conversão de Depósitos em Crédito mantém-se saudavelmente abaixo de 1x (0,84x). Relativamente aos volumes de empréstimos, Soc. não Financeiras, a procura por empréstimos continua a contrair-se numa base anual e mensal, atingindo valores não observados nos últimos dois anos, o que faz sentido, uma vez que as taxas de juro atingem valores máximos dos últimos 9 anos; enquanto o saldo de crédito hipotecário, cai sequencialmente pela primeira vez desde dezembro/19 e esperamos que esta tendência se intensifique os próximos meses com a subida das taxas de juro, impactando, finalmente, a procura por imobiliário. Finalmente, os níveis de incumprimento no setor mantêm-se em valores mínimos e a “proxy” para a Margem de intermediação Financeira atinge valores historicamente elevados.
Resumindo, o ambiente mantém-se muito favorável no sector, com a proxy de Margem de Intermediação Financeira em janeiro a atingir valores históricos. A remuneração dos Depósitos subiu em janeiro e deverá continuar nos próximos meses, uma vez que os Depósitos estão a competir diretamente com os Certificados de Aforro, ainda assim as taxas nos créditos deverão subir também protegendo a margem. Menores volumes de crédito deverão finalmente começar a impactar a economia, a procura por imobiliário e supostamente estabilizar o nível geral de preços; ainda assim, os diferimentos temporais monetários são incertos. Finalmente, os rácios de incumprimento mantêm-se em valores historicamente baixos, sendo natural uma subida os próximos meses com o abrandar da economia.
Fonte: Banco de Portugal, INE, AS Independent Research
António Seladas, CFA
Voltar