COMUNICADOS

Nota Mercados IMGA 14 de abril de 2025

14 abril 2025

Lisboa, 14 de abril de 2025

 

Os mercados financeiros viveram mais uma semana histórica, pautada por uma significativa escalada de volatilidade, em resposta à errática e confusa política de tarifas conduzida pela Administração Trump. Efetivamente o comportamento dos responsáveis norte-americanos tem sido pautado por constantes volte-face, depois do tragicamente famoso “Liberation Day”, onde Donald Trump anunciou um pacote de tarifas “recíprocas”, que surpreendeu o mercado pela negativa, dada a sua agressividade e abrangência, cobrindo grande parte dos países/territórios com trocas comerciais com os EUA.

Face à resposta negativa dos mercados financeiros, traduzida em fortes quedas dos índices acionistas, alargamento dos spreads de crédito e subida das taxas de juro norte-americanas, o presidente Donald Trump americano decidiu, pressionado pela queda nas sondagens, queda da confiança dos consumidores e empresários, e por críticas internas dentro do seu gabinete, de membros do Partido Republicano e também de figuras relevantes de Wall Street, como Jamie Dimon e Bill Ackman, suspender as medidas tarifárias para mais de 75 países, por um período de 90 dias, destinados a negociações bilaterais. Os mercados financeiros reagiram positivamente, com o acionista a registar uma das melhores sessões da história em Wall Street.

Como não podia deixar de ser, este recuo foi vendido como uma vitória e um prémio para os países que não retaliaram ao pacote de tarifas recíprocas. Deste modo, a China, que tinha respondido com um aumento de tarifas para 34% e posteriormente 84%, foi excluída e viu as suas tarifas serem aumentadas para os 145%, numa intensificação da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Em resposta, Pequim aumentou as taxas aos EUA para os 125%, classificando qualquer posterior aumento destes valores como “uma piada”.  Donald Trump procura agora isolar a China e tentar formar uma extensa aliança que possa pressionar Xi Jinping, mas dada toda a retórica hostil que evidenciou anteriormente contra os seus históricos aliados será difícil reconstruir um clima de confiança que permita alcançar este objetivo. Ao mesmo tempo, proclama que espera alcançar um acordo com a China.

A recuperação dos índices acabou por ser de curta duração, já que as taxas de juro dos EUA enfrentaram uma onda massiva de vendas, com as yields a subirem 50 pontos base em poucas sessões, fazendo soar os alarmes no sistema financeiro. Rumores apontam como vendedores a China e/ou Japão, relevantes detentores de dívida norte-americana. Mas a autoria destas vendas não foi assumida, tendo os japoneses inclusivamente referido que a dívida pública norte-americana não deveria ser usada nas negociações comerciais.

Num enquadramento de normalidade, a subida das taxas de juro norte-americanas deveria ter suportado a valorização do USD, mas tudo indica que quem esteve a vender treasuries, optou por trocar o produto dessas vendas, nomeadamente dólares, por outras moedas, eventualmente para segurar a sua própria moeda ou para adquirir moedas com políticas comerciais e fiscais menos incertas, como o franco suíço, o iene japonês ou até mesmo o euro, cuja cotação contra o dólar atingiu máximos desde 2022.

Face à situação de forte stress que os mercados viviam no final da semana, com um crescente movimento de aversão a ativos norte-americanos, em particular no sensível mercado obrigacionista, Donald Trump decidiu, no final da passada sexta-feira, recuar ainda mais e isentar de tarifas parte significativa dos produtos importados da China, nomeadamente computadores, smartphones, chips e outros produtos eletrónicos. No entanto, parte destas isenções viria a ser revertida ainda durante o fim de semana. Adicionalmente, e talvez até mais importante, Susan Collins, presidente da Reserva Federal de Boston e membro do FOMC da Reserva Federal, afirmou que o banco central norte-americano está “absolutamente preparado para ajudar a estabilizar os mercados” caso se registe uma evolução negativa para uma conjuntura disruptora. Tal foi interpretado como a total disponibilidade da FED em usar as ferramentas ao seu dispor, provavelmente um regresso do Quantitative Easing (QE) com compra de ativos e não um corte de taxas diretoras. Enquanto grande parte dos membros do FOMC revelam a sua preocupação e determinação em combater a inflação, crescem as vozes exteriores, sobretudo junto de republicanos e trumpistas, que exigem uma resposta “patriótica” da Reserva Federal a estes “ataques”, o que levanta receios de uma tentativa de politização do banco central norte-americano.

Estes anúncios providenciaram alguma acalmia nos mercados, que abriram na segunda-feira com valorizações nos mercados acionistas, estreitamento de spreads de risco no crédito e uma relevante queda de 10pb nas yields norte-americanas.

 

Estratégia de Investimento

O anúncio das tarifas e toda a incerteza gerada, com avanços e recuos, têm adensado os riscos de downside para a economia, nomeadamente através do impacto no consumo e no investimento que têm a deterioração da confiança dos consumidores e empresários, o impacto negativo das tarifas nos resultados das empresas e o impacto da queda dos mercados acionistas e obrigacionistas no comportamento dos agentes económicos (“Efeito de Riqueza”). Do lado da inflação, os riscos são de upside, uma vez que as tarifas são necessariamente inflacionárias. Os impactos finais dependerão do nível de tarifas final que se vierem a estabelecer e da evolução do processo negocial. Quanto maior a incerteza e por mais tempo esta se prolongar, maior será o impacto.

 

Neste contexto de incerteza, definimos três cenários que se podem materializar:

 

  1. Guerra comercial total, com retaliações e contrarretaliações -> Implica cenário de recessão global e de queda adicional dos mercados acionistas, alargamento dos spreads de crédito e queda das taxas de juro. Os bancos centrais teriam de intervir, nomeadamente a FED, para estabilizar o mercado, mas a níveis bem mais deprimidos que os atuais.

 

  1. Reversão parcial das tarifas -> Cenário moderadamente positivo para o mercado. Consistente com uma recuperação parcial do mercado acionista e dos spreads de crédito no curto prazo. Impacto inflacionista das tarifas poderá significar riscos de upside para as taxas de juro.

 

  1. Assinatura de múltiplos acordos de livre comércio -> Queda das tarifas efetivas para níveis não demasiado distantes dos iniciais, com exceção da China. Consistente com uma recuperação quase integral das perdas acionistas, recuperação dos spreads de crédito e subida das taxas
    de juro.

 

Nesta fase, acreditamos que o cenário 2 é o mais provável de se materializar, dados os últimos acontecimentos. O cenário 1, o mais improvável e aquele que teria as consequências mais nefastas. Enquanto o cenário 3, não é o cenário base, mas pode vir a acontecer com alguns países.

Estratégia de Duração: Gestão ativa. Banco Central Europeu deve manter a trajetória de descida das taxas de juro, descendo já novamente as taxas de juro na reunião desta semana. Reserva Federal deverá ser paciente, dados os riscos de inflação, mas se o risco de recessão se materializar irá intervir, relaxando a política monetária.

Posicionamento em Ações: Manutenção da exposição a ações com preferência por uma alocação diversificada, incluindo mercados emergentes, assim como UK, em detrimento de ativos USD. Escolha mais seletiva de setores que podem beneficiar deste novo enquadramento, como healthcare e defesa.

FX: USD deverá permanecer sob pressão, enquanto o Yen poderá servir como cobertura em caso de deterioração económica.

Alternativos: Validade de estratégias de proteção com ativos descorrelacionados, como o ouro, fundos de retorno absoluto ou cobertura de risco com opções.

Fonte: Direção Comercial & Marketing


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