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Nota Mercados IMGA 8 de abril de 2025
08 abril 2025
Lisboa, 8 de abril de 2025
No passado dia 2 de abril ocorreu o muito publicitado Liberation Day, na forma de anúncio de um pacote de tarifas, lançado pela Administração Trump, sobre bens importados pelos EUA. Estas medidas representam o mais significativo desafio ao regime de trocas comerciais que vigora desde o final da II Grande Guerra e que teve o seu apogeu com a terceira fase da globalização, precisamente patrocinada pelos EUA, a partir da queda do muro de Berlim, em 1989.
Efetivamente estamos perante um momento histórico, que poderá redefinir todo o espectro geopolítico das próximas décadas. A postura isolacionista e protecionista dos norte americanos, que acreditam assim poder resolver o seu déficit comercial e orçamental, poderá alterar, de forma relevante, o processo de (des)globalização, levando à reorientação das cadeias de abastecimento e ao surgimento de novas alianças regionais.
A agressividade e magnitude das tarifas anunciadas por Donald Trump surpreenderam um mercado que já tinha incorporado um cenário negativo. As ondas de choque e o impacto nas diferentes classes de ativos foram relevantes, com um acentuado movimento de aversão ao risco, que se materializou numa forte queda dos mercados acionistas, alargamento de spreads de crédito, queda das commodities, desvalorização do USD e procura por ativos de refúgio, nomeadamente a dívida governamental.
Implementação de Tarifas: A administração Trump introduziu tarifas significativas, incluindo uma taxa base de 10% com tarifas recíprocas que podem chegar até 49% contra os principais parceiros comerciais, juntamente com uma tarifa confirmada de 25% sobre as importações de automóveis. Espera-se que isso eleve a taxa efetiva de tarifas dos EUA para mais de 20%, marcando o nível mais alto em um século. Estas tarifas por país estão programadas para serem implementadas já amanhã, a 9 de abril. Ontem surgiram rumores que a Administração Trump poderia considerar um delay de 90 dias (exceto para China), o que, a acontecer, deverá promover um movimento de risk on e anular parte das perdas nos mercados acionistas.
Impacto nas diferentes geografias:
Ásia: Enfrenta as tarifas mais altas, afetando significativamente a China, a Coreia do Sul e a maioria das nações do Sudeste Asiático. Até o Japão, um tradicional aliado dos EUA foi severamente penalizado, particularmente no setor auto.
América do Norte e Sul: Relativamente menos impactada em comparação com os países asiáticos. México e Canadá ficaram isentos de tarifas adicionais
Europa: Castigada com tarifas recíprocas de 20%, com a notável exceção de UK, que permanece apenas com a tarifa base de 10%. Impactos económicos destas novas tarifas podem rondar os 0,5% de quebra no PIB europeu.
Implicações Económicas
Desaceleração Económica dos EUA: Embora as tarifas possam levar a picos de inflação no curto prazo, a preocupação mais significativa é seu impacto no crescimento económico. A economia dos EUA já enfrenta uma desaceleração no meio a uma crescente incerteza política, aumentando a probabilidade de uma recessão para valores estimados entre 40-60%. Contudo é ainda é prematuro assumir um cenário de recessão, já que a hard data não tem validado, até agora, a fraqueza dos indicadores de sentimento e confiança.
Contágio para as restantes geografias: Dos vários cenários que se colocam neste momento sobre a mesa, dois parecem mais prováveis. O mais negativo é uma escalada das tensões comerciais, com a imposição de tarifas retaliatórias e o aumento das tarifas norte-americanas como tem ameaçado Donald Trump. É um cenário que conduziria claramente a uma severa recessão.
Para já, é o cenário a que atribuímos menor probabilidade associada, pois não beneficiaria ninguém. O cenário mais positivo é aquele que considera as tarifas anunciadas como o máximo que será cobrado e que serão alvo de revisão em baixa através de um processo de negociação bilateral.
Este parece-nos ser o cenário mais provável, dadas as declarações de alguns membros do governo norte-americano, assim como o impacto negativo que as tarifas têm na própria economia norte-americana e o facto de se realizarem eleições para o congresso no próximo ano, o que pode colocar em causa a maioria republicana no Congresso. Mas talvez o mais relevante, seja a pressão dos lobbies das empresas norte-americanas, importantes financiadoras dos republicanos, e que têm estado a ser bastante afetadas por estas posições políticas da Administração Trump.
A probabilidade de o Congresso retirar a Donald Trump a liberdade de anunciar tarifas indiscriminadas (legalmente só está autorizado a aplicar tarifas recíprocas) parece improvável, dado o controlo que ele tem sobre o GOP. Contudo sete Representantes republicanos mais desalinhados já assinaram uma proposta nesse sentido.
Estratégia de Investimento
Volatilidade do Mercado: O aumento inesperado das tarifas levou a uma volatilidade acentuada no mercado, que provavelmente persistirá a menos que haja um progresso significativo nas negociações comerciais.
Crescimento dos Lucros: Espera-se uma desaceleração acentuada no crescimento dos lucros devido ao aumento dos custos (maiores despesas com mão de obra e produção).
Posicionamento em Ações:
Fortes quedas, concentradas em poucas sessões, dão espaço para alguma recuperação nas próximas semanas, num cenário de abrandamento da retórica agressiva, avanço de negociações ou até adiamento das tarifas recíprocas.
Validade de estratégias de proteção com ativos descorrelacionados, como o ouro, ou cobertura de risco com opções.
Preferência por uma alocação diversificada em ações, incluindo mercados emergentes (China e India), assim como UK, em detrimento de ativos USD. Escolha mais seletiva de sectores que podem beneficiar deste novo enquadramento, como healthcare e defesa.
Prémio de risco dos mercados acionistas terá, no médio prazo, de ser reavaliado à luz de um novo regime de trocas comerciais.
Estratégia de Duração: Gestão ativa. Bancos centrais deverão ser pacientes, dados os riscos de inflação, mas se o risco de recessão severa se materializar irão intervir, relaxando significativamente as políticas monetárias. Necessidades de financiamento, para defesa e infraestrutura, na Europa e refinanciamento da dívida norte americana irão competir pelas poupanças globais.
Também as taxas de juro, agora mais atrativas, da dívida japonesa vão constituir uma alternativa segura à crescente desconfiança que os investidores internacionais, China em particular, têm face à imprevisibilidade da Administração Trump.
FX: USD deverá permanecer sob pressão, enquanto o JPY pode servir como cobertura em caso de deterioração económica.
Fonte: Direção Comercial & Marketing
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